"É intolerável" que Cavaco "já tenha definido cenários pós-eleitorais"
O líder da CDU, que falava aos jornalistas à margem da arruada na Baixa da Banheira (Setúbal), disse que Cavaco Silva "cada vez terá mais dificuldades" em condicionar o eleitorado "tendo em conta o seu atual prestígio", mas "aqui trata-se de uma questão de fundo" em que o Presidente da República "tem demonstrado um certo desprezo em relação àquele que vai decidir qual o futuro" do pais e que é "o povo português".
"Não conheço o que vai no pensamento do Presidente da República, mas é de facto uma situação intolerável que já tenha definido os cenários, as perspetivas, as decisões, independentemente do resultado das eleições ainda não estar apurado, porque o povo português ainda não votou", criticou Jerónimo de Sousa.
O voto nas eleições de domingo "vai ter consequências" e "para o Presidente da República parece que não", o que "é uma posição inaceitável", declarou Jerónimo de Sousa.
"Não faça cenários, espere pelo resultado das eleições", recomendou o secretário-geral do PCP, insistindo na crítica ao Chefe do Estado quando "aparece já com respostas prontas, independentemente da votação" que só vai "permitir análises, definição de objetivos", depois de conhecidos os resultados.
Em causa a declaração feita quarta-feira em Nova Iorque pelo Presidente da República: "Quanto ao dia 5, estou com muita tranquilidade, sei muito bem aquilo que irei fazer e todos sabem que sou totalmente insensível a quaisquer pressões, venham elas de onde vierem. Decidirei nos termos dos meus poderes constitucionais e colocando sempre em primeiro lugar o superior interesse nacional."
Cavaco Silva escusou-se a revelar como vai decidir, apesar de afirmar já ter uma solução pensada: "A forma como irei decidir, embora já esteja na minha cabeça, eu não irei revelar nem um centímetro."
"O Presidente da República, no essencial, o que pretende é salvar a política de direita, no essencial o que quer é uma maioria, seja de um ou de outro, para continuar esta mesma política e fará tudo, até ao último momento, para tentar essa salvação", concluiu Jerónimo de Sousa.
Recorde-se que, no comício de quarta-feira à noite em Braga, Jerónimo de Sousa qualificou como "pobres de espírito os que julgam que, pela estratégia do medo, amedrontam o povo, que o podem fazer desistir de querem um futuro melhor".
"Ei-los, [PSD/CDS e PS], atrás das manobras e chantagens de Cavaco Silva para alcançar essa maioria, seja de um ou de outro, para perpetuar a mesma política de sempre", argumentou Jerónimo de Sousa.